Ela não briga com a TV, mas a leva para a sala de aula: são exibidos vídeos de anúncios e programas e, em seguida, analisados criticamente. A publicidade do iogurte é debatida; o produto adquirido; sua química analisada e comparada com a fórmula declarada pelo fabricante; as incompatibilidades denunciadas, bem como os fatores porventura nocivos à saúde. O programas de auditório de domingo é destrinchado: a proposta de vida subjacente; a visão de felicidade; a relação animador-platéia; os tabus e preconceitos reforçados, etc. Em suma, não se fecha os olhos à realidade: muda-se a ótica de encara-la.
Há uma integração entre escola, família e sociedade. A política, com P maiúsculo, é disciplina obrigatória. As eleições para o grêmio ou diretório estudantil são levadas a sério, e um mês por ano setores não-vitais da instituição são administrados pelos próprios alunos. Os políticos e candidatos são convidados para debates e seus discursos analisados e comparados às suas práticas.
Não há provas baseadas no prodígio da memória nem na sorte da múltipla escolha. Como fazia meu velho mestre Geraldo Franca de Lima, professor de História (hoje romancista e membro da Academia Brasileira de Letras). No dias da prova sobre a independência do Brasil, os alunos traziam à classe toda a bibliografia pertinente e, dadas as questões, consultavam os textos, aprendendo a pesquisar.
Não há coincidência entre calendário gregoriano e o curricular: João pode cursar a 5ª série em seis meses ou em seis anos, dependendo de sua disponibilidade, aptidão e recursos.
É mais importante educar que instruir; formar pessoas que profissionais; ensinar a mudar o mundo que a ascender à elite. Dentro de uma concepção holística, ali e ecologia vai do meio ambiente aos cuidados com nossa unidade corpo-espírito, e o enfoque curricular estabelece conexões com o noticiário da mídia.
Na escola dos meus sonhos, os professores são bem pagos e não precisam pular de colégio em colégio para poderem se manter, pois é a escola de uma sociedade onde a educação não é privilégio, mas direito universal e o acesso a ela deve ser obrigatório.”
(Fonte: FREI BETO e FREIRE, Paulo. Essa escola chamada vida. São Paulo: Ática. (Transcrito do Jornal de Opinião, de 24/10/97).
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